Furia Divina

O que é que se pode dizer sobre este senhor? Tem talento. Imenso talento. Talento para dar e vender.
Misturando ficção com factos reais, José Rodrigues dos Santos, vai criando livro após livro, histórias que ao mesmo tempo que nos entretem nos vai informando. Com uma linguagem simples e que prende o leitor da primeira à última página.
Mesmo que por vezes pareça repetir e insistir num ou noutro ponto, a verdade é que o faz com o objectivo de informar e esclarecer os leitores.
Não sou grande apreciador do género literário a que José Rodrigues dos Santos se tem dedicado com esta série de livros (O Códice 632, O Sétimo Selo, A Fórmula de Deus), mas conseguiu prender-me às histórias que escreve.

Dito isto passemos à historia propriamente dita:

Em "Fúria Divina" reencontramos o professor Tomas Noronha de novo a trabalhar com os americanos, desta vez não directamente com a CIA mas com o Nest, um organismo que tenta evitar ataques terroristas envolvendo armas nucleares.
Quando os americanos interceptam uma mensagem codificada da Al-Qaeda aberta em Lisboa, recorrem uma vez mais aos talentos do criptoanalista português para os ajudar.
Mais uma vez José Rodrigues dos Santos transporta-nos a cenários tão diferentes como Lisboa, Veneza, Cairo, Ierevan ou Lahore... sempre com muita acção à mistura.
Se por um lado nos conta as aventuras de Noronha e companhia para evitar um atentado de magnitude inconcebível, por outro conta-nos a história de Ahmed um menino egípcio que cresce no mundo islâmico até se tornar um dos responsáveis pelo maior pesadelo da humanidade.
Misturado à ficção o autor vai-nos dando inúmeras informações sobre temas da actualidade e dá-nos uma importante lição sobre o Islão.

Este romance foi revisto por um dos primeiros operacionais da Al-Qaeda.

Caim de José Saramago

Sim. Eu sei.
Tendo em conta as minhas opiniões acerca de deus e de religião não sou a pessoa indicada para fazer a defesa deste livro. Ou talvez seja... visto que num rápido passeio pela net só li pessoas a criticarem o livro, as ideias e o próprio autor - seja como escritor seja como pessoa.
Nalguns casos a falta de argumentos traduziu-se em ataques pessoais ao autor o que é lamentável...
Até porque este último romance de Saramago é dos mais acessíveis de ler que ele já escreveu.

É um romance. Uma história de ficção.
Que fique bem claro (isto para aqueles que já o vieram criticar pelo conteúdo do livro).
E qual é o conteúdo do livro?
A viagem de Caim depois de matar Abel. Uma viagem fantástica em que atravessa eras e séculos de história para entender que Deus (não, não sou eu) não é perfeito, não é omnisciente ou omnipotente.
Através dos séculos Saramago mostra-nos os erros e imperfeições de Deus.

O livro está simplesmente genial. Adorei e recomendo-o a todos. Nem que seja para depois dizerem mal...

E já agora para aqueles que andam a alimentar as polémicas com este livro um conselho:
se não gostaram, se acham ofensivo... calem-se e não comentem. Já deviam ter percebido com outros livros (O evangelho segundo jesus cristo, os versículos satânicos, a casa dos budas ditosos, etc...) que quanta mais polémica sobre um livro mais ele vende. E os autores agradecem...

Quanto a este livro em especial já se sabe que não vai receber prémios em Portugal mas é um dos melhores que li este ano. E já li muitos...

Os Anagramas de Varsóvia - Richard Zimler / Os Gropes - Tom Sharpe

Mais uma vez fiquei para último...
Mas ao contrário dos meus colegas que sugeriram, um um livro com mais de um ano e o outro um com mais de cem, eu vou tentar sugerir livros um pouco mais recentes.

Sim, porque para compensar os atrasos de postagens neste blog vou sugerir dois livros.



O primeiro, publicado em Setembro, é o mais recente romance de Richard Zimler "Os Anagramas de Varsóvia".

É um pouco mais do mesmo. O género que Zimler já nos habituou em toda a série dos Zarco (O Último Cabalista de Lisboa; Meia-Noite ou o Principio do Mundo; Goa ou o Guardião da Aurora; A Sétima Porta), isto é, um livro que é uma mistura de romance policial com romance histórico envolvendo a comunidade judia.
Mas é o género em que Zimler é, sem contestação, genial.
E este, "Os Anagramas de Varsóvia", é até ver o seu melhor livro. E o mais sombrio também... o mais perturbador...
Passado no gueto de Varsóvia durante os primeiros temos da ocupação Nazi da Polónia o livro faz um retrato da vida no gueto e das dificuldades que a comunidade judia passou nesses anos e ao mesmo tempo conta a história de Erik Cohen e da sua busca para descobrir o(s) assassino(s) do seu sobrinho Adam de apenas nove anos e de outras crianças judias que vão aparecendo mortas e com os corpos profanados...
Esta é a história de Cohen relatada a um estranho depois da morte de Cohen... confuso? leiam o livro e vão perceber.

Como já disse, este é, na minha opinião, o melhor livro de Zimler até agora e uma leitura que aconselho a todos.

Sobre o autor:

Richard Zimler (Roslyn Heights, Nova Iorque, 1956) é um escritor norte-americano naturalizado português.
É formado em religião comparativa pela Universidade de Duke (1977) e mestre em Jornalismo pela Universidade de Stanford (1982). Depois de se ter formado, trabalhou durante oito anos como jornalista na área da Baía de São Francisco. Em 1990, mudou-se para a cidade do Porto, em Portugal, onde vive actualmente e ensina jornalismo na Universidade do Porto. Naturalizou-se português em 2002
Richard Zimler tem publicado vários romances que têm sido bestsellers em diversos países e já ganhou diversos prémios, incluindo o National Endowment of the Arts Fellowship in Fiction em 1994 e o Herodotus Award para o melhor romance histórico em 1998.
O prémio literário Alberto Benveniste 2009 foi atribuído a Zimler pela obra Goa ou o Guardião da Aurora (Le Gardien de L'Aube). O prémio foi criado para galardoar um romance (publicado em francês) que se enquadra no programa do Centro Alberto Benveniste (Estudos Judeus-Sefarditas). O galardão foi entregue ao autor, no dia 26 de Janeiro, 2009, na Sorbonne.
O seu primeiro livro para crianças foi lançado em 2009 e chama-se Dança Quando Chegares ao Fim: bons conselhos de amigos animais.

Obra

• O Último Cabalista de Lisboa - (Lisboa: Quetzal Editores, 1996, tradução: José Lima; São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Adaptação para o português do Brasil: Rosa Freire d'Aguiar) — romance histórico cuja acção decorre em 1506 entre os judeus forçados, as principais personagens pertencem a uma família de cristãos-novos residente em Alfama, cujo patriarca, Abraão Zarco, é um iluminador e membro da célebre escola cabalística de Lisboa.
• Trevas da Luz
• Meia-Noite ou o Princípio do Mundo
• Goa ou o Guardião da Aurora
• À Procura de Sana
• A Sétima Porta
• Confundir a Cidade com o Mar
• Dança Quando Chegares ao Fim
• Os Anagramas de Varsóvia

E como tinha prometido outro livro quero sugerir um livro que li recentemente e me proporcionou algumas gargalhadas.
Falo do excelente "os Gropes" de Tom Sharpe"

O livro é excelente e garante uma boa dose de humor...

Desde a sua fundação no século XII por Awgard, o Pálido, um viking não excessivamente viril, o clã dos Gropes viveu governado, com proveito e mão de ferro, pelas mulheres.

E é então que no inicio do terceiro milénio tudo muda...
Uma história que inclui entre outras pérolas policias um pouco confusos, uma fuga de Londres para Barcelona com passagem pela Letónia, uma mãe demasiado babada, um vendedor de carros em segunda mão um pouco desonesto (desculpem o pleonasmo), demolições, minas, dinamite, um matadouro faça-você-mesmo e claro está mulheres de pulso forte e decididas...
Um enredo ao mesmo tempo simples e cativante recheado de momentos de um humor delirante...


Sobre o autor:

Tom Sharpe (nascido em 30 de março de 1928) é um escritor satírico inglês, nascido em Londres e educado em dois dos melhores colégios de Cambridge.
Depois de cumpridos os estudos e o Serviço Militar nos Fuzileiros navais, Tom Sharpe mudou-se para a África do Sul, fazendo trabalho social e ensinando na província de KwaZulu-Natal. Manteve um estúdio de fotografia em Pietermaritzburg entre 1957 e 1961, data em que foi expulso do país. Regressado a Inglaterra, foi leitor de história no Colégio de Artes e Tecnologia de Cambridge entre 1963 e 1972.
A sua permanência na África do Sul foi inspiradora do argumento das suas duas primeiras novelas: Rioutous Assembly (1971), uma sátira ao regime sul-africano e às teses da supremacia racial, seguido de Indecent Exposure, um romance na mesma linha de crítica ao apartheid. A partir de 1976 inicia a séri de livros dedicados à personagem de Henry Wilt.

Obras (não sei se está completo)
• 1971: Riotous Assembly
• 1973: Indecent Exposure (Atentado ao Pudor)
• 1974: Porterhouse Blue (A Epopeia de Mr. Skullion)
• 1975: Blott on the Landscape
• 1976: Wilt (Wilt)
• 1977: The Great Pursuit
• 1978: The Throwback (O Triunfo do Bastardo)
• 1979: The Wilt Alternative
• 1980: Ancestral Vices (Vozes Ancestrais)
• 1983: Vintage Stuff
• 1985: Wilt on High (Wilt na Maior)
• 1995: Grantchester Grind
• 1996: The Midden
• 1996: Wilt Omnibus - uma colecção das três primeiras novelas Wilt, também conhecida por "Wilt in Triplicate"
• 2004: Wilt in Nowhere
• 2009: The Gropes – os Gropes

(fonte das biografias e lista das obras: wikipedia - por isso mesmo não dou garantias de estar 100% correcto)

O Monte dos Vendavais

Conforme combinado entre os autores deste blog vamos (tentar) recomeçar a levar isto a sério e ver se publicamos aqui sugestões pelo menos uma vez por mês. Já que pelo menos um dos meus queridos colegas já fez a sua parte cá vai a minha.

E vou para um clássico da literatura universal - e uma releitura recente.

"O Monte dos Vendavais" de Emily Bronte.

Lançado em 1847, foi o único romance da escritora britânica Emily Brontë. Hoje considerado um clássico da literatura inglesa (e universal), recebeu fortes críticas no século XIX. Teve várias adaptações para o cinema, e para televisão, e está na origem de uma canção de sucesso: Wuthering Heights, composta e interpretada por Kate Bush, uma das faixas do álbum The Kick Inside, de 1978.
Toda a história, com poucas excepções, é contada pela testemunha ocular de todos os acontecimentos, uma governanta chamada Helen Dean, ao locatário da propriedade Granja da Cruz dos Tordos, em Gimmerton, Yorkshire, enquanto este se encontrava adoentado.
O patriarca da família Earnshaw resolve fazer uma viagem e lá resolve adoptar um pequeno órfão, que todos acham ser um cigano, ao qual chamam Heathcliff porém sua procedência não é revelada em nenhum momento da narrativa. Toda a afeição que o pai logo demonstra pelo menino cria ciúmes no seu filho legítimo Hindley, que acha que está a perder a afeição do pai para o menino. A sua irmã, Catherine, também se afeiçoa a Heathcliff. Quando o Sr e Sra Earnshaw morrem, Hindley sujeita Heathcliff a várias humilhações. Este passa a ficar bruto e melancólico. Apesar do amor entre ele e Catherine, ela decide casar com Edgar Linton, por este ter melhores condições de sustenta-la que Heathcliff.
Heathcliff sai do Monte dos Vendavais e, quando volta, está rico, chamando a atenção de Catherine e despertando ciúmes ao seu marido. Catherine tem uma filha de Edgar e morre logo em seguida. Heathcliff resolve vingar-se de Edgar e de Hindley.
Primeiro casa com Isabel, irmã de Edgar. Pouco depois, Isabel lamenta ter-se casado com Heathcliff, e tem um filho chamado Linton, enquanto estava longe de seu marido. Hindley cai no vício do jogo e da bebida e perde todos os seus bens para Heathcliff. O filho de Hindley (Hareton) consequentemente, fica sem herança -- mas apesar disso, considera Heathcliff uma pessoa de alta moral, não permitindo que se fale mal dele. Antes da morte de Edgar, Heathcliff casa Linton e Cathy (filha de Catherine e Edgar). Cathy descobre-se sem bens, quando seu marido Linton morre e Heathcliff apresenta um testamento onde seu filho lhe passava tudo quanto possuía. Pensando já ter alcançado a sua vingança, percebe nos últimos descendentes das casas da Granja da Cruz dos Tordos e do Monte dos Vendavais o olhar de seus antepassados e a paixão entre os dois, morrendo só em sua loucura e solidão. Como último desejo é enterrado junto com Catherine, seu grande amor... e deste dia em diante muitos juram ver sempre um casal vagando pelas charnecas do Morro...

Na minha opinião uma das mais belas histórias de amor alguma vez escritas - embora um pouco sombria. Um livro não apenas sobre amor e vingança mas muito mais.
Um livro que todos deviam ler...

Minha Besta - uma história de amor

C. Thomas Flood, 19 anos, tem um problema. Ele dormiu com a sua incrivelmente sexy namorada, Jody. Acontece que ela é um vampiro. E agora, ele também é um.

“- Mataste-me, meu estafermo! Tu não prestas! Tommy acabava de acordar pela primeira vez como vampiro. Tinha Dezanove anos, era magro e toda a vida se debatera entre estados de perplexidade de confusão. - Quero que fiquemos juntos – disse Jody. Pálida bonita, de longos cabelos ruivos a cobrir-lhe o rosto, com um engraçado nariz arrebitado que parecia solicitar as sardas perdidas e um enorme sorriso manchado de batom verde. Também ela se transformara em num vampiro há apenas alguns meses, pelo que estava ainda a aprender a ser medonha.”

Antes de mais devo avisar que este livro é a continuação de outro, ainda inédito entre nós, "Bloodsucking Fiends" e de inicio pode causar uma certa dificuldade em acompanhar visto começar onde o outro acabou. Embora sejam histórias diferentes que se lêem mesmo sem conhecer a história anterior.

Como de costume Christopher Moore presenteia-nos com uma galeria de personagens incríveis e uma história plena de humor.

Acompanhamos a história de Tommy e Jody mas também de toda uma série de personagens: dois detectives da policia; uma prostituta de pele azul (que responde pelo nome de Blue) os amigos de Tommy que estão viciados na prostiuta e são além disso (e além de outras coisas) caçadores de vampiros; há um vampiro com 800 anos um homem que passa o tempo quase todo bêbado e o seu gato tosquiado e anormalmente grande.

Uma história hilariante na qual vampiros e outras figuras bizarras se envolvem numa trama que raia a esquizofrenia. Se está à procura de uma história no típico cenário de São Francisco, com sexo quente entre vampiros (semelhante a sexo escaldante entre macacos, mas mais quente ainda), gatos gigantescos barbeados, princesas do Cheddar de Fond du Lac e grandes jogadores de bowling com perus congelados, não procure mais… pois acabou de encontrar.

O único senão deste livro é a fraca qualidade da tradução - mas não se pode ter tudo...