Auto-de-fé é o único romance de Elias Canetti. Obra magistral, catapultou este escritor de génio forte e individual para a categoria dos principais autores europeus, ao lado de Robert Musil, Hermann Broch e Karl Kraus. Proibido pelo regime nazi aquando da sua publicação, este é hoje considerado um dos livros fundamentais da história da literatura ocidental. Auto-de-fé narra a história do professor Peter Kien: sinologo e erudito. O seu apartamento é uma imensa biblioteca onde Kien se refugia para evitar todo e qualquer contacto físico e social. O ponto de viragem da sua vida é o casamento com Therese, a sua governanta. Se Kien é um homem composto de livros, Therese é a sua contrafigura pragmática e mesquinha. Expulso da sua própria casa, Kien empreenderá uma viagem aos infernos, com final trágico e surpeendente.
Um livro que se centra na personagem de Peter Kien um bibliófilo, quase agorafóbico, que prefere a companhia dos seus preciosos livros a qualquer contacto humano. Um personagem que vê nos livros não o reflexo da humanidade mas um refugio um local onde se pode proteger dessa mesma humanidade que tanto despreza. O seu único contacto é Therese, a sua governanta com quem vem a casar, não por amor, não por necessidade de afecto mas por ver nela e no cuidado que tem com a sua biblioteca a salvação e protecção da sua biblioteca. Mas os planos não correm como ele prevê.
Escrito numa altura em que o regime nazi queimava livros por toda a Europa este livro constitui uma resposta e um espelho a esse regime. Sem querer estragar a história a quem ainda não leu o livro a imagem final de Kien a sorrir enquanto o fogo destroi a sua preciosa biblioteca reflecte (a vocação para a falta de comunicação de um amante de livros que pensa que o resto do mundo, obviamente ignorante, não merece aceder aos tesouros impressos que guarda, tem o seu equivalente no senhor de bigodinho ridículo que pensava que o resto do mundo, obviamente impuro, não merecia aceder a quaisquer tesouros. Entre ambos, a narrativa de Elias Canetti constrói uma ponte mais eficaz na denúncia da barbárie (onde os livros são um pormenor, mas cheio de significado) que mil panfletos com a história bem contada.
Sara Figueiredo Costa
http://cadeiraovoltaire.wordpress.com/2011/07/11/elias-canetti-auto-de-fe-cavalo-de-ferro/)
E como o Mário tinha dito na postagem anterior que nunca tinha conseguido ler este livro até ao fim eu resolvi posta-lo aqui e por dois motivos:
1º Para ver se o irrito um bocadinho
2º Porque gostei realmente deste livro
1 comentário:
Gostei tanto mas tanto, tanto deste livro que há já uns anos (sem exagero mais de seis) ofereceram-me "As Vozes Maraquexe" e está numa estante a encher-se de pó...
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