
A par de "Os Irmãos Karamazov" este "Recordações da Casa dos Mortos" foi o livro deste autor que mais me marcou.
Preso em 22 de Novembro de 1849 por participar num grupo de tendência socialista chamado Círculo de Petraschevki, Dostoievski é levado a um pelotão de fuzilamento para ser liquidado. Porém, na iminência da morte é salvo e sua pena trocada por quatro anos de trabalhos forçados na parte mais gelada da Rússia. Tal experiência marcaria de forma decisiva a escrita de Dostoievski e estaria presente em tudo o que criaria dali em diante. Em especial neste livro em que ele se serve da sua própria experiência para escrever uma obra magnifica.
A história que o autor traz até aos leitores é a de um nobre Alexander Petrovitch, condenado a dez anos de prisão na sibéria depois de ter assassinado a esposa. A história é contada com base nas memórias escritas de Petrovitch encontradas depois da sua morte.Dostoievski transforma em ficção situações que presenciou ou foi protagonista durante o tempo que passou na Sibéria.
Apesar de se basear nas "memórias" de Petrovich o livro é muito mais do que um simples diário. Aliás nem segue uma ordem cronológica, é em vez disso um conjunto de memórias espalhadas ao acaso pelas páginas do livro organizadas mais pelo tema do que com a intenção de formar uma história contínua.
Petrovitch, homem culto e bem educado, tenta adaptar-se a uma situação que lhe é extremamente desconfortável, convivendo com párias de toda espécie, o personagem faz uma leitura psicológica dos tipos que abundam na prisão gelada. As privações desumanas a que os prisioneiros são submetidos e a relação de competição existente entre os condenados são descritas com mestria pelo autor.
Alias, é exactamente a leitura de Petrovitch acerca das situações acontecidas no presídio que dão ao livro um sentido revelador da condição humana. Mestre na arte de captar e trazer à tona os sentimentos mais obscuros do ser humano, Dostoievski cria um ambiente ficcional claustrofóbico e opressivo, onde o simples ato de andar de um lado a outro da cela torna-se uma verdadeira odisseia.
Dessa maneira Petrovitch vai desenhando tipos que se destacam ora pela total falta de sensibilidade, ora pelo refinamento de suas ideias.
O interesse do autor pela condição humana (desgraçada neste caso), dá o tom ao texto. De forma isenta, sem demonstrar sentimentos de compaixão ou mesmo autocomiseração, Petrovitch faz um relato sóbrio que ainda assim, sem pieguice ou coisa que o valha, emociona. Mesmo em se tratando de assassinos da pior espécie, é difícil não se sensibilizar com as histórias cheias de humilhação que os personagens vivem ao longo do livro.
2 comentários:
aprovado.
csd
Um dos melhores livros do autor, mas pessoalmente ainda prefiro "Crime e Castigo", mesmo sendo mais sombrio o autor consegue transmitir melhor o sofrimento e os estados de alma dos personagens... penso eu
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