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terça-feira, 20 de abril de 2010

O Outono em Pequim Boris Vian


Há uns anos li um livro que me fez descobrir este senhor. O livro chamava-se: "A Espuma dos Dias" e logo no prefácio deparei-me com esta pequena pérola: «Só existem duas coisas: o amor de todas as maneiras, com raparigas belas, e a música de Nova Orleães ou Duke Ellington. O resto deveria desaparecer, porque o resto é feio (...)»
depois li tudo o que consegui encontrar dele (As Formigas, Irei cuspir-vos nos Túmulos,...) mas durante anos faltou-me este excelente "O Outono em Pequim" até agora!!!




Primeiro: não se deixem enganar pelo titulo - a história nem se passa em Pequim nem no Outono...
Segundo: confesso que nem sei bem como definir o estilo deste livro... Faz-me pensar em alguns quadros surrealistas que conheço




"O Outono em Pequim" é uma sequência absolutamente descabida, caótica, aleatória, absurda e genial de acontecimentos, (perdoe-se o uso e abuso dos adjectivos) que têm tanto de surpreendentes como de inconcebíveis, pelo menos até ao ponto em que o próprio Vian decide dar um pouco de coerência ao jorro criativo e escrever uma história. Aliás, quando o autor decide "organizar" a história e dar-lhe uma "sequência lógica", surge um aviso ao leitor, para que este fique devidamente prevenido. Para quem já conhece Vian, tal não é de estranhar. Para quem não conhece, não há nada a temer, o seu mundo absurdo funciona mesmo assim, com uma atitude mista de provocação e ingenuidade. E é claro que a "lógica" e a "coerência" de Vian são ... no mínimo originais e muito próprias...


Ao contrário do que o título possa indicar, esta história não se passa no Outono nem em Pequim, mas no imaginário deserto da Exopotâmia, onde um estranho Sol emite raios negros e um grupo de pessoas bastante original tenta construir uma estação de comboios com vias-férreas que levam a lado nenhum. Num cenário onde reinam o ilógico, o absurdo e o improvável, Vian, misturando um fantástico humor com uma desigual quantidade de náusea, introduz várias personagens excêntricas, tais como os melhores amigos Ana e Ângelo, ambos engenheiros, e Rochela, que se apaixona pelo primeiro, e se torna sua amante, enquanto Ângelo está loucamente apaixonado por ela. Além deste trio, deparamos ainda com o doutor Manjamanga, o arqueólogo Atanágoras Porfirogénito e Pipa, o dono do hotel, entre outros - todos eles num lugar que se assemelha a "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll, onde existe um matiz negro e tudo é possível, excepto a felicidade.

e já agora outras citações do senhor:
- O trabalho é o ópio do povo, e eu não quero morrer drogado
- Se nos lembrarmos melhor dos bons momentos, para que servem os maus?

"Levar uma pancada na cabeça não é nada. Ser drogado duas vezes seguidas na mesma noite é desagradável mas vá lá... Mas sair para apanhar ar e acordar num quarto desconhecido com uma mulher, os dois com a roupa de Adão e Eva, isso é que já é um bocado forte de mais." (Morte aos Feios)


Sobre o autor:
Boris Paul Vian (Ville-d'Avray, 10 de Março de 1920 — Paris, 23 de Junho de 1959), foi um engenheiro, escritor, e cantautor francês, identificado com o movimento surrealista e ao anarquismo enquanto filosofia política.
Nascido em Ville-d'Avray, na Ilha-de-França, em 10 de Março de 1920, fez o ensino liceal, em Paris, onde estudou principalmente línguas (latim, grego e alemão). Foi admitido na École Centrale des Arts et Manufactures, em 1939, onde se diplomou em Engenharia Mecânica, em 1942.
Levou sempre uma vida boémia, vindo a construir um percurso multifacetado, da literatura à música. Esteve empregado na firma AFNOR, de onde foi despedido pelos conflitos com os seus superiores, a quem corrigia constantemente erros ortográficos, episódios retratados no romance Vercoquin et le plancton (1947). Antes disso já havia publicado, em 1944 e 1945, sob os pseudónimos Bison Ravi e Hugo Hachebuisson.
Assinou peças de teatro, contos literários, letras musicais e romances, entre os quais se destaca A Espuma dos Dias (1947) considerada por muitos a sua obra-prima. Com uma atitude por vezes surrealista, Vian procurou que a sua escrita transmitisse a capacidade que a língua tem de apresentar um mundo imaginário mais real e revelador do que a rotina da vida normal, diária e banal.
A sua doença obrigou-o a deixar de tocar jazz, depois de ter sido, na década de de 1930, trompetista no Hot Club de França. Os últimos anos da sua vida foram passados na dependência de medicação, vindo a morrer por insuficiência cardíaca, depois de um ataque de coração, ocorrido quando via a adaptação do seu livro Irei Cuspir-vos nos Túmulos, no Cinema Marbeuf.
fonte: Wikipedia