Pesquisar neste blogue
Etiquetas
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Sugestões de Natal (Diogo)
Cá vai disto:
Para o Zé (Bybloz):
Presságio de Fogo de Marion Zimmer Bradley
Em Presságio de Fogo, Marion Zimmer Bradley, autora de As Brumas de Avalon, reimaginou a história da Guerra de Tróia e reconta-a do ponto de vista de Cassandra, a bela e atormentada princesa real de Tróia.
Na sua brilhante recriação da famosa lenda, a queda de Tróia desenrola-se de uma nova e ousada maneira a partir do julgamento de Páris, do rapto de Helena (esta não sendo aqui a perversa adúltera da lenda, mas sim uma mulher afectuosa e amante, dedicada a Páris e aos seus filhos) e do levantamento dos exércitos gregos por Agamemnon, cunhado enfurecido de Helena, até à tragédia final da destruição da cidade, predestinada pelos deuses e pelo obstinado orgulho dos seus líderes masculinos.
A heroína deste conto épico é Cassandra e a poderosa tensão do romance deriva tanto da luta interna, por ela travada, com as suas próprias lealdades divididas (visto que a sua lealdade ao pai, o rei e aos irmãos é contraposta à sua submissão crescente à fé mais antiga no Matriarcado e na Terra-Mãe), como do amargo conflito entre Troianos e Gregos, no qual prevê fantasmagoricamente a destruição ou a maldição do tudo o que lhe é querido, visto ter o poder da profecia.
Articulando o facto arqueológico com a lenda, os mitos dos deuses com os feitos dos heróis, o facto e a ficção, Marion Zimmer Bradley insufla uma vida nova, num conto antigo, reinventando para nós Aquiles, Eneias, Heitor, Pátroclo, Helena de Tróia, Ulisses, Agamemnon, Menelau como «pessoas» vivas, empenhadas numa luta desesperada que condena tanto os vencedores como os vencidos, sendo o seu destino visto através dos olhos de Cassandra, sacerdotisa, princesa e mulher apaixonada, com um espírito guerreiro!
O PÉRIPLO DE BALDASSARE de Amin Maalouf
«O que a presença dessa mulher apaziguou em mim não foi a sede carnal de um viajante, foi a minha angústia original. Nasci estrangeiro, vivi estrangeiro e morrerei estrangeiro ainda. Sou demasiado orgulhoso para falar de hostilidade, de humilhações, de rancor, de sofrimentos, mas sei reconhecer os olhares e os gestos. Há braços de mulheres que são lugares de exílio, e outros que são a terra natal.»
Tendo partido pelas estradas em 1665, o narrador desta história, Baldassare Embriaco, genovês do Oriente e negociante de curiosidades, anda em busca de um livro que se supõe trazer a Salvação a um mundo desamparado. Anda sem dúvida também à procura daquilo que ainda possa dar um sentido à sua própria existência.
No decurso do seu périplo, no Mediterrâneo e para além dele, Baldassare atravessa regiões de perdição, cidades em chamas, comunidades à espera. Encontra o medo, a falsidade e a desilusão; mas também o amor, no momento em que já não o esperava
«A mola da narrativa de Maalouf é uma inquietação e uma vontade de partir constantes, somada a uma sede de conhecimento que, na época, alargava as fronteiras do espírito. Dos azares, desamores, nostalgias e golpes do destino vamos tendo conta, mas é nas páginas mais pessoais do diário que se estabelece a cumplicidade entre o herói e o leitor e se recupera alento para uma fantástica jornada sem fim.»
Diário de Notícias
«Um verdadeiro fresco literário… um esplêndido e sofisticado prazer. Maalouf tem um excepcional conhecimento da História e um talento natural para a narrativa de aventuras.»
Kirkus Reviews
A Rapariga que Inventou um Sonho
Haruki Murakami
Uma colectanea de contos de um dos mestres da literarura.
Para o João Deus (e este, sabe Deus [o lá de cima]que é complicado):
AS CRUZADAS VISTAS PELOS ÁRABES
Amin Maalouf
Cada vez que encaramos as cruzadas é através dos relatos dos Cruzados. Mas há também aqueles que foram invadidos pelos Cruzados e que foram os habitantes desses territórios. Justamente por esse motivo, Amin Maalouf publica As Cruzadas Vistas Pelos Árabes. Eis o outro lado do binóculo!
Interessa comprovar que as versões orientais e ocidentais não coincidem de todo. Nós escrevemos a nossa própria visão; durante esse tempo, eles escreveram a deles. É por isso que esta nova história das cruzadas não se parece com nenhuma outra.
Errar é Divino
Marie Phillips
Se os deuses são imortais, onde será que vivem e o que será que fazem em pleno século XXI? A resposta poderá surpreendê-lo. Sim, os deuses do Olimpo estão vivos, mas, como os seus poderes já não são o que eram porque já ninguém os venera, o seu dia-a-dia é muito pouco agitado. Um dia, porém, uma seta disparada por Eros vai instalar o caos entre deuses e meros mortais, com consequências hilariantes. Errar É Divino é um romance encantador e inteligente que lhe proporcionará inúmeros momentos de boa disposição.
VOO NOCTURNO
Antoine Saint-Exupéry
Deste modo regressavam a Buenos Aires, vindos do sul, do oeste e do norte os três aviões da Patagónia, do Chile e do Paraguai. Em Buenos Aires esperava-se a sua carga para dar partida, cerca da meia-noite, ao avião da Europa.
Três pilotos, cada um na parte de trás duma coberta pesada como um batelão, perdidos na noite, meditavam no seu voo e, em direcção à cidade imensa, desceriam lentamente do seu céu de tempestade ou de paz, como estranhos camponeses que descem das suas montanhas.
Rivière, responsável por toda a rede, passeava dum lado para o outro no campo de aviação de Buenos Aires. Permanecia silencioso, pois até à chegada dos três aviões este dia para ele continuava a ser temível...
Para o Mário (Mr. Nonsense) (era de esperar que alguém com a colecção de livros que ele tem fosse complicado mas foi o mais fácil):
Guia Prático para Cuidar de Demónios
Christopher Moore
APERTEM OS CINTOS, SENHORAS E SENHORES. É TEMPO DE CHRISTOPHER MOORE! Nesta engenhosa narrativa de Moore encontramos um dos pares mais dissonantes de que há memória nos anais da Literatura. O bem parecido é um ex-seminarista e académico “de estrada”, de cem anos de idade, Travis O’Hearn. O verde é Catch, um demónio com o péssimo hábito de comer praticamente todas as pessoas que conhece. Por detrás da falsa fachada Tudor de Pine Cove, Catch vê um bufete de quatro estrelas. E Travis julga ter descoberto a forma de se livrar do seu companheiro de viagem, de dentes aguçados. Mas, entretanto, os bêbados, as neo-pagãs e os sedutores caloteiros de Pine Cove têm outros planos. E ninguém está minimamente preparado, quando o inferno estoira!
Grimus
Salman Rushdie
O primeiro romance de Salman Rushdie
Depois de beber um elixir que lhe confere a imortalidade, o jovem índio Águia Esvoaçante passa setecentos anos a navegar pelos mares com a bênção, e em última análise a maldição, da vida eterna. Por fim, a sensação de monotonia começa a crescer dentro dele, e acaba por rumar à montanhosa ilha de Calf. Aqui, Águia Esvoaçante conhece outros imortais obcecados com a sua própria estagnação e decide subir ao pico da ilha, de onde emana o misterioso e corrosivo Efeito Grimus. Após uma série de encontros e desafios, Águia Esvoaçante descobre-se na presença do criador da ilha e desvenda os mistérios da sua própria humanidade.
A Guerra dos Fazedores de Chuva com os Caçadores de Nuvens
Guerra para Crianças
José Luandino Vieira
Uma estória de guerras, para crianças. Estória e não história, porque a narrativa é como um mussosso tradicional angolano. E as guerras são o confronto da natureza com a tecnologia. Ou dos donos da terra com os de fora da terra. Ou dos invadidos com os invasores. Dos oprimidos com os opressores.
A solução deste conflito vem da natureza quando os jacarés tomam partido. Ouçamos, no final, a fala do grande chefe Kibaia: «Disse: Só as crianças podem ser ao mesmo tempo vítima, testemunha, juíz e carrasco;».
E, como uso em fecho de narrativa para crianças, uma moral: na dúvida, sempre a favor dos oprimidos.
Para o César:
CONVERSA N’A CATEDRAL
Mário Vargas Llosa
Uma vez que o Mário lhe passou o vicio do Vargas Llosa.
Sentados a uma mesa da taberna A Catedral, o jornalista Santiago Zavala conversa com o seu amigo Ambrosio. Estamos em Lima, na época ditatorial do general Manuel A. Odría (1948-1956), e dessa conversa acompanhada de cerveja emerge um Peru cruel, corrupto, desesperançado, matéria-prima ideal, portanto, para um romance que só um grande jornalista e escritor como Vargas Llosa poderia ter produzido.
Uma história esplêndida que reúne muitos dos ingredientes que fizeram a fama do autor peruano – as críticas ácidas, a irreverência, a rebeldia e o humor sarcástico.
Conversa n'A Catedral é a crónica de uma ditadura e da resistência possível graças à palavra. Uma aguda reflexão sobre a identidade latino-americana e sobre a perda da liberdade.
Um romance que, mais do que um marco na carreira literária do autor, é um ponto de referência inevitável na história da literatura universal.
Harry Renasce
Mark Sarvas
Um livro de culto, divertido, invulgar e com muito humor sobre um homem que enfrenta as preocupações da meia-idade.
Cosmos
Carl Sagan
Carl Sagan trata de tudo: 'Cosmos é tudo o que existiu, existe ou existirá.' O que o olhar humano alcança e, mais longe ainda, o que a mente humana alcança. Leva-nos numa viagem para a frente no espaço e para trás no tempo. Faz-nos sonhar! Poder-se-á pedir mais de um livro?
Carlos Fiolhais, físico
Carl Sagan é recordado como um dos maiores astrónomos de sempre, não só pelas suas contribuições exemplares para as ciências planetárias e a astrobiologia, mas por ter sido um extraordinário divulgador e comunicador de ciência. Visionário no estudo do sistema solar, a sua elegante, clara e inteligente forma de escrita ganhou, graças ao livro Cosmos, imensos adeptos e chegou a públicos até então afastados da ciência. A par do Mensageiro dos Céus, de Galileo Galilei, Cosmos é um livro maior na divulgação da astronomia: o livro e a série de TV que o acompanha serão para sempre considerados um dos acontecimentos mais importantes da história da divulgação cientifica. Cosmos é um livro para ler, reler e será sempre uma inspiração e motivação para descobrir o Universo que nos rodeia.
Pedro Russo, coordenador Global do Ano Internacional da Astronomia 2009
Em Cosmos, porventura pela primeira vez na literatura, são transmitidos com inteligência e emoção tocantes, a ideia e o sentimento de uma cidadania… cósmica.
Ninguém mais do que Carl Sagan desejou e se empenhou em encontrar indícios de vida inteligente no Universo, mas ninguém como ele foi tão céptico e rigoroso na verificação científica das suas supostas manifestações. Livro de viagens e de descoberta, Cosmos prepara-nos para esse encontro fantástico.
Guilherme Valente, editor
Sugestões de Natal
Não vou sugerir nada que não tenha lido, até porque seria no mínimo estranho estar a sugerir algo que não conheço.
Vamos então começar:
A IGNORÂNCIA DO SANGUE
de Robert Wilson
A abrasadora cidade de Sevilha ainda está a recuperar de um chocante e ainda não solucionado ataque terrorista quando um violento e espectacular acidente de carro faz incidir a luz sobre outra ameaça. Um gangster morto e uma mala cheia de dinheiro significam que a máfia russa se encontra no caminho do Inspector Jefe Javier Falcón. (o mesmo de O Cego de Sevilha e de Assassinos escondidos).
À medida que emerge uma intensa guerra entre bandos rivais, Falcón encontra-se, assim como aqueles que lhe estão mais próximos, no centro da disputa e vê-se como alvo de forças letais subitamente desencadeadas. Perante um ataque tão brutal, Falcón decide retaliar com uma impiedade que o surpreende tanto quanto aos seus adversários… mas que terá um desenlace trágico.
Drácula - O Morto-Vivo
Stoker, Dacre
O.K. não é uma sugestão muito natalícia, eu sei. Mas gostei bastante deste livro.
Na presente sequela ao clássico da Literatura de terror escrita por Dacre Stoker (um descendente directo de Bram Stoker) e por Ian Holt (um reconhecido perito e investigador da história de Drácula) vemos como as vidas para sempre entrelaçadas destas personagens nunca se desligaram do vampiro que tão corajosamente lutaram por destruir. Passaram vinte e cinco anos desde que o pequeno grupo de heróis se uniu para destruir Drácula. Entretanto, Jonathan e Mina Harker criaram o filho, Quincey, que se tornou um jovem promissor, ainda que por vezes ingénuo, à medida que o outrora feliz casamento dos pais se ia deteriorando numa relação amarga. O doutor Seward - no passado, um médico eminente - vive agora no tormento da paranóia e da dependência de drogas. Arthur Holmwood, o intrépido guerreiro e elegante noivo de Lucy, deixou-se consumir pelo ódio e pelo remorso. Por fim, Van Helsing, o líder do destemido grupo, um homem doente e envelhecido, enfrenta o seu derradeiro inimigo: a morte.
Esta é uma continuação do romance de Bram Stoker, de grande riqueza histórica e ritmo vertiginoso, que consegue ser tão assustador como o original, mostrando-se amplamente capaz de ressuscitar as suas atmosferas. A sequela percorre fios do enredo, presentes nas notas que Bram compilou durante a pesquisa e a escrita de "Drácula", que não foram aproveitados na versão final, e recupera personagens que não sobreviveram aos seus esboços iniciais. Baseando-se, ainda, numa aturada investigação do príncipe Drácula histórico, da Roménia, e de outras figuras de renome, este é um livro fascinante e cheio de "suspense", que encantará tanto os velhos admiradores da obra-prima de Stoker como os fãs mais recentes - aqueles que se cruzarão, pela primeira vez, com o vampiro criado por Stoker.
«...ao mesmo tempo, uma sequela do livro de Bram Stoker e uma recriação da personagem que sistematizou os mitos e lendas dispersos sobre os vampiros. A principal diferença entre os dois livros reside na actualização do registo da escrita pois Bram Stoker fê-lo num género epistolar, enquanto Dacre Stoker e Ian Holt usam a técnica do moderno thriller.»
Diário de Notícias
A Cruz Amarela
René Wais
Este não é um romance. É um ensaio sobre os últimos Cátaros e sobre a inquisição e é brilhante.
«Absolutamente empolgante»
Daily Telegraph
Algures entre o diabo e Deus, entre a fúria da Igreja Católica e a liberdade religiosa, encontram-se os Cátaros…
Nos primeiros anos do século XIV, a Igreja Católica extinguiu a chama herética dos Cátaros no sudoeste de França. Este foi o último reduto de um povo forçado – depois de mais de um século de repressão e derramamento de sangue – a esconder as suas crenças extraordinárias nas aldeias isoladas dos Pirenéus. Mas, apesar do êxito da Igreja no extermínio dos Cátaros, o seu testemunho sobreviveu até aos dias de hoje. Baseado em relatos contemporâneos e através da sua própria, René Weis conta a história absorvente da luta condenada dos últimos Cátaros pela sobrevivência.
«Refrescante e estimulante … a melhor descrição da realidade do Catarismo na qual iremos penetrar durante muito tempo.»
The Times Literary Supplement
«Como romance religioso, A Cruz Amarela consegue o seu objectivo; como história de uma extirpação cruel, é arrebatadoramente conseguida.»
The Times
«Reconstrói de uma forma brilhante as maquinações pessoais e as intrigas sexuais através das quais os Cátaros dominaram Montaillou, antes de se tornarem vítimas da Inquisição.»
Sunday Times, Books of the Year
«Uma história com uma ressonância moderna poderosa, uma história de perfídia, traição, paixão, ganância e heroísmo … o meu livro do ano.»
Christopher Bland, Sunday Telegraph
E cheguei à conclusão que nenhum livro que aqui sugeri é aquilo que se pode chamar natalício, mas enfim pode ser que entretanto me lembre de algum...
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Os Nus e os Mortos de Norman Mailer
Norman Mailer é um daqueles autores que teve a (má)sorte de escrever a sua obra-prima e alcançar o sucesso com o seu primeiro romance. Precisamente este "Os Nus e os Mortos" publicado originalmente em 1948 atirou o seu autor para o estrelato.
É uma história de guerra mas não só. É muito mais...
Norman Mailer baseou-se na sua própria experiência para escrever aquele que foi, na opinião do jornal The Times: "O melhor romance de guerra que alguma vez saiu nos Estados Unidos".
Mas como já o disse é mais do que uma história de guerra.
É um relato sobre camaradagem, sobre a resistência humana quando levada ao limite, sobre coragem.
Um pelotão de jovens soldados norte-americanos percorre o seu caminho através do terreno traiçoeiro que atravessa a ilha de Anopopei, ocupada pelos japoneses. Apanhados na confusão do combate próximo e armado, e perseguidos por atiradores furtivos, são empurrados até aos limites da resistência humana. Mantidos juntos apenas pela vontade crua da sobrevivência, e mal conseguindo manter vivos os seus sonhos no meio da voragem, cada um dos homens encontra as suas esperanças mais recônditas e medos mais profundos expostos a nu pela pressão incansável do combate.
Um livro que impressiona pela linguagem crua e violenta mas como escreveu José Cardoso Pires no prefácio: "... estamos perante um fresco de violência, é certo, um fresco de carne violentada, mas onde domina sobretudo o tormento da alma, a razão de consciência."
Tudo neste livro é magnifico desde a construção das personagens, que retratam os diferentes "tipos de soldados" que participaram na guerra, as suas opiniões, os seus dilemas e medos. "O recurso a flashbacks, de inspiração nítida de Dos Passos, vem completar o perfil desta gente e justificar-lhe o comportamento. Essas páginas de «Time Machine», aqui traduzidas com tanta felicidade por «Máquina que Explora o Tempo»**, representam o cadastro vivo de um bando de heróis para os quais a guerra transcende a problemática ao nível da luta pela sobrevivência.
Domina-os o passado, a experiência da pátria. Em comparação com isso, medo e febres, horrores e fogo não podem representar a suprema provação. A provação última, a mais dura, é a de justificarem o seu esforço." (de novo Cardoso Pires no prefácio)
* O livro foi reeditado na comemoração dos 60 anos da sua publicação (1948-2008) e lançado de novo quando se assinalam os 70 anos do inicio da II Guerra Mundial.
** O prefácio foi escrito para a primeira edição portuguesa do livro (Ulisseia - 1958) nesta edição Time Machine já aparece com a tradução de Máquina do Tempo.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Cidadela - Antoine de Saint-Exupéry
Não sei - nunca soube- em que género o havia de classificar. Romance, ensaio, filosofia... não sei...
Mas posso garantir que é uma obra prima.
Confesso que ainda pensei andar a pesquisar na net em busca de algo que me ajudasse a escrever sobre este livro mas tudo o que encontrei (em diversos sites) foi e passo a citar:
Prefacio e Tradução de Ruy Belo.A Obra-prima de Saint-Exupéry.«Cidadela» é impossível de inserir num género específico, pois é composta por um léxico próprio, de vocábulos iluminados por um sentido outro. O sentido do que é autêntico, sincero e participado, pois, para Saint-Exupéry, só quem colabora é. E «Cidadela» é, porque reflecte o coração do homem simultâneamente singular e universal que procura e se pacifica ao considerar o silêncio como uma das respostas possíveis. Ao longo de uma narração de ordem aparentemente aleatória o autor indicia, assim, com uma sensibilidade notável, o reconhecimento dos limites próprios, dos outros e das coisas. Nas suas palavras: "a pedra não tem esperança de ser outra coisa que não pedra. Mas ao colaborar, ela congrega-se e torna-se templo" ainda que de abóboras imperfeitas, porque livres.
Convém realçar - e acho que isso escapou a quem escreveu este texto- que a ordem aparentemente aleatória do texto deve-se em grande medida ao facto do autor ter morrido sem acabar este livro.
Como disse e bem Ruy Belo no prefácio "ninguém pode dizer qual o aspecto final que a obra teria se Saint-Exupéry a tivesse podido acabar." (a citação é feita de memória - por isso as palavras podem não ser estas mas o sentido é).
Do que li deste autor é a obra que mais mexeu comigo em mais de um sentido.
Uma obra imortal e de uma profundidade assombrosa...
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
lullaby canção de embalar - Chuck Palahniuk
Mas Palahniuk é bem mais do que isso...
É difícil encontrar adjectivos para o qualificar, quem quer que tenha lido um livro dele (ou viu a adaptação ao cinema de algum dos livros) sabe que os livros dele são habitados por seres invulgares, por vezes psicóticos, os rejeitados da sociedade...
Mas neste "Lullaby - canção de embalar" (que finalmente ao fim de já nem sei quantos anos o Mário finalmente me emprestou) temos um dos melhores livros dele que me recordo de ter lido.
Carl Streator, um viúvo solitário, repórter jornalístico quarentão que é enviado para fazer uma série de artigos sobre o Síndroma de Morte Súbita Infantil. No decurso da investigação, descobre uma sequência sinistra: a presença nos locais dessas mortes da antologia “Poemas e Rimas à volta do Mundo”, todos os exemplares abertos numa página onde surge um canto africano – uma canção de embalar. Essa canção revela-se letal quando falada ou mesmo pensada na direcção de alguém e quando se aloja no cérebro de Streator, ele transforma-se num serial killer involuntário. Junta-se então a uma agente imobiliária, Helen Hoover Boyle, especializada na venda de casas assombradas e que perdera uma criança há vários anos por acção da canção. O seu objectivo é eliminar todas as cópias do livro, impedindo que esse letal vírus verbal se espalhe e extermine a Humanidade. Acompanhado-os na viagem estão a assistente de Helen, Mona Sabbat, uma Wiccan extremamente zelosa, e o seu cínico namorado eco-terrorista, Oyster.
“Imaginem uma praga que se apanha através dos ouvidos.
Paus e pedras vão quebrar-vos os ossos, mas agora as palavras também vos conseguem matar.
A nova morte, esta praga, pode vir de qualquer lado. Uma canção. Um anúncio suspenso no céu. Um boletim noticioso. Um sermão. Um músico na rua. Pode apanhar-se a morte de um tipo das televendas. Um professor. Um ficheiro na internet. Um cartão de parabéns. Um bolinho da sorte. [...].
Imaginem o pânico. [...].
Imaginem as pessoas a entoar canções, a cantar hinos, para abafar todo e qualquer som que pudesse trazer a morte. Com as mãos bem coladas nos ouvidos, imaginem as pessoas a rejeitar toda e qualquer canção ou discurso em que a morte pudesse ser codificada, da maneira como os maníacos envenenam um frasco de aspirina. Qualquer palavra nova. Qualquer coisa que eles não compreendem já será suspeita, perigosa. Evitada. Uma quarentena contra a comunicação.”
in “Lullaby – Canção de Embalar” de Chuck Palahniuk
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Lidia Jorge - O Cais das Merendas
Do grupo de escritores que descobri nos meus 25/26 anos há uma SENHORA ESCRITORA que destaco: LÍDIA JORGE!
O primeiro livro que li dela e me despertou um amor imediato foi "O Jardim Sem Limites" que devorei em muito pouco tempo e num curto espaço de semanas seguiram-se "O Vale da Paixão",
"O Cais das Merendas" e "O Dia dos Prodígios" e o inevitável "A Costa dos Murmúrios".
De todos aquele que provavelmente mais me marcou foi este excelente "O Cais das Merendas".
Este livro conta de forma magistral as mudanças que se fizeram sentir no mundo rural após o 25 de Abril. Através dos olhos dos funcionários de um hotel do Sul do país que tem de se confrontar com novas e inesperadas situações, uma mudança profunda no seu modo de vida. Um processo que com o tempo lhes vai transformando os seus hábitos e cultura. No Inverno quando o hotel se encontra vazio os diferentes personagens que desfilam pela narrativa reúnem-se em "parties" e "barbecues" onde no meio do álcool tentam recuperar a sua própria língua e tradições.
Uma história sobre a luta intima entre o desejo de se modernizar e o de se manterem fieis às suas tradições. E nessa luta assistimos ao desfilar dos seus medos, inseguranças...
Um dos melhores livros portugueses dos últimos 50 anos. Sem exagero.
O Silmarillion - Contos inacabados de Numenor e da Terra Média - Tolkien
É um conjunto de textos por vezes e aparentemente desirmanados mas que contam a história da terra média desde a criação do mundo até ao final da Terceira Era e ao final da Guerra do Anel relatada em "O Senhor dos Aneis"
Para aqueles que como eu se apaixonaram pela obra de Tolkien estes dois livros explicam e ajudam a compreender muito do que esteve na origem da trilogia mais famosa do Autor.
Não são de todo romances de fantasia como foi "O Senhor dos Aneis", é antes de mais um conjunto de lendas e um compendio de história... uma história totalmente inventada e fantasiosa mas mesmo assim história.
Mais até o primeiro "O Silmarillion".
Neste livro acompanhamos toda a criação e evolução da Terra Média, o surgimento dos Elfos, dos anões e dos Homens, as guerras contra Morgoth e Sauron, as alianças e traições entre os diversos povos da Terra Média ao longo das várias Eras do mundo, desde a sua criação até ao final da Terceira Era.
Como já disse dá toda uma nova perspéctiva ao magnifico trabalho que foi a trilogia de "O Senhor dos Aneis". Encontramoos neste(s) livro(s) muitas referencias e personagens que conhecemos da trilogia.
É sobretudo um trabalho de génio...
O segundo livro
é ao fim e ao cabo a mesma coisa as mesmas histórias de "O Silmarillion" mas desta vez um pouco mais desenvolvidas e sob a forma de lendas e contos curtos muitos deles incompletos ou com algumas faltas pelo meio.
De realçar e elogiar o trabalho de Christopher Tolkien (filho do Autor) na recuperaçao de todo este material durante tantos anos inédito.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
O espião de D João II Deana Barroqueiro
Vem isto a propósito de quê?
Faço esta inconfidência por causa deste livro publicado pela Ésquilo "O Espião de D. João II" de Deana Barroqueiro.
Nos últimos quatro anos reuni informações dados biográficos sobre uma das mais importantes e mais esquecidas figuras da época dos descobrimentos portugueses: PÊRO DA COVILHÃ.
E quando já tinha tudo pronto quando comecei a escrever e a alinhavar as ideias vem-me parar às mãos este livro:
E esta é a história que eu ia contar. A viagem de Pêro da Covilhã até à Índia e a demanda pelo reino do Preste João. (Eu talvez tivesse abordado um pouco mais a juventude dele em Espanha ao serviço de D. Juan de Guzman mas se já assim o livro tem para cima de 500 páginas se fosse incluir essa fase em detalhe seria um romance interminável).
Sobre o livro:
O formidável Espião de D. João II possuía qualidades e talentos comparáveis aos de um James Bond e Indiana Jones, reunidos num só homem. A memória fotográfica, uma capacidade espantosa para aprender línguas, a arte do disfarce para assumir as mais diversas identidades, a mestria no manejo de todas as armas do seu tempo e, sobretudo, uma imensa coragem e espírito de sacrifício, aliados ao culto cavaleiresco da mulher e do amor que o fascinavam, fazem dele uma personagem histórica única e inspiradora.
El-rei D. João II escolhia-o para as missões mais secretas, certo que qualquer outro falharia. Talvez esse secretismo seja a razão do seu nome de família e do seu rosto terem ficado, para sempre, na penumbra.
Em 1487, Pêro da Covilhã foi enviado de Portugal, ao mesmo tempo que Bartolomeu Dias, a descobrir por terra, aquilo que o navegador ia demandar por mar: uma rota para as especiarias da Índia e notícias do encoberto Preste João.
Ao espião esperava-o uma longa peregrinação de cerca de seis anos pelas regiões do Mar Vermelho e costas do Índico até Calecut e, também, pela Pérsia, África Oriental, Arábia e Etiópia, descobrindo povos e culturas em lugares hostis, cujos costumes lhe eram completamente estranhos. Na pele de um enigmático mercador do Al-Andalus, o Escudeiro-guerreiro do Príncipe Perfeito realizou proezas admiráveis que causaram espanto no mundo do seu tempo.
Neste romance fascinante, Deana Barroqueiro convida-nos a seguir o trilho de Pêro da Covilhã na sua fabulosa odisseia recheada de aventuras, amores, conquistas e descobertas inolvidáveis…
O livro é excelente mas uma palavra à autora:
- Depois de me ter "roubado" a ideia e de ter escrito o "meu" livro (melhor do que eu poderia escrever) só lhe posso dizer uma coisa: ODEIO-A ...
JOHN DOS PASSOS - MANHATTAN TRANSFER
John Dos Passos é sem dúvida um nome incontornavel da literatura norte-americana do século XX. Responsável pela introdução de técnicas literárias inovadoras e originais, inspirou toda uma nova geração de escritores e mereceu a crítica elogiosa dos seus contemporaneos.
Manhattan Transfer, publicado pela primeira vez em 1925, é justamente considerado por muitos a obra mais importante do autor. Através deste livro John Dos Passos esboça um retrato fiel da América, captando o verdadeiro espírito da cidade de Nova Iorque pelo olhar, bastante próximo do registo cinematografico, daqueles que a habitam.
Para quem não sabe John Dos Passos é de origem portuguesa. O seu avô paterno, Manuel Joaquim Dos Passos, deixou a ilha da Madeira rumo aos Estados Unidos da América em 1830.
Novos colaboradores
A partir de hoje o blogue "bibliofiliacos" conta, para além das contribuições habituais do Mário (Mr.Nonsense), e de José Vasconcelos (Byblos) e do João Deus (dEUS - este vosso criado); contamos dizia eu a partir de hoje com as contribuições de César Vicente (César) e Diogo Fonseca (Diogo).
Só me resta desejar-lhes boa-sorte, bom trabalho e desejar-lhes ainda as boas vindas.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
O Bobo - Christopher Moore
Ou como disse um critico "Christopher Moore é um homem muito doente, no melhor sentido da palavra."
Imaginem a história do Rei Lear de Shakspeare. Juntem-lhe uns pozitos de outras peças do mesmo autor, misturem o sentido de humor e a escrita inigualável de Christopher Moore e podem imaginar o resultado.
Homem de infinita graça, Pocket foi o bobo acarinhado de Lear durante anos; desde a época em que as filhas adultas do rei – a egoísta e ardilosa Goneril, a sádica Regan, (mas sexy a ponto de despertar fantasias eróticas), e a doce e leal Cordélia – eram apenas raparigas. Naturalmente que Pocket fica do lado do seu velho e tonto amo, quando Lear – insidiosamente encorajado por Edmund, o bastardo (em todos os sentidos possíveis e imaginários) – exige que as filhas lhe jurem o seu amor e devoção perante um grupo de convidados. É óbvio que Goneril e Regan ficam radiantes por poder lamber o rabo ao pai, enquanto Cordélia acha o pedido um tanto… bom… um tanto estúpido e a sua rude honestidade acaba por lhe custar a parcela do reino, que seria sua por direito, ainda acabando por ser expulsa ao pontapé. Agora, Pocket terá de recorrer a manobras bastante sofisticadas – lançar feitiços, instigar assassínios e provocar uma ou duas guerras (a treta do costume) – para conseguir que Cordelia volte a cair nas boas graças do Pai Lear, frustrando as manobras demoníacas das perversas irmãs e salvando de repetidos espancamentos o aprendiz de bobo, Drool, seu amigo gigantesco, desmesuradamente lerdo e invariavelmente lascivo … sem se esquecer de fornicar com todas as jovens apetecíveis… que pelo caminho se disponham a tal. Pocket pode ser um Bobo… mas não é um idiota.
Aqueles que leram “o Anjo mais estúpido” já estarão familiarizados com as advertências do Autor no inicio dos livros, para os outros aqui fica uma pérola (só espero que não me venham lixar com os direitos de autor…). Deliciem-se:
AVISO
Esta história é indecente. Nestas páginas encontrará cópulas gratuitas, assassínios, espancamentos, mutilações, traições, vulgaridade e profanidade a níveis até hoje inexplorados; bem como uma gramática não tradicional, infinitivos com advérbios pelo meio e cenas impares de masturbação… Se esse tipo de situações o incomodam, queira por favor ignorá-lo, gentil Leitor, pois o nosso propósito é apenas divertir e não ofender. Se, pelo contrário, acha que gosta desse tipo de situações, descobriu a história perfeita!
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo
Seja a escrever um romance seja a escrever um livro como este, Murakami consegue prender os leitores do inicio ao fim. Um texto simples sobre o que representa para el correr transforma-se num maravilhoso ensaio repleto da mesma poesia e beleza que se encontra em qualquer um dos seus romances.
Em 1982, ao mesmo tempo que abandonava o lugar à frente dos destinos do clube de "jazz" e que tomava a decisão de se dedicar à escrita, Haruki Murakami começava a correr.
No ano seguinte, abalançou-se a percorrer sozinho o trajecto que separa Atenas da cidade de Maratona.
Depois de participar em dezenas de provas de longa distância e em triatlos, o romancista reflecte neste livro sobre o que significa para ele correr e como a corrida se reflectiu na sua maneira de escrever.
Murakami abre o livro das confidências (e a sua alma) e dá a ler aos seus fiéis leitores uma meditação luminosa sobre o Homem.