Norman Mailer é um daqueles autores que teve a (má)sorte de escrever a sua obra-prima e alcançar o sucesso com o seu primeiro romance. Precisamente este "Os Nus e os Mortos" publicado originalmente em 1948 atirou o seu autor para o estrelato.
É uma história de guerra mas não só. É muito mais...
Norman Mailer baseou-se na sua própria experiência para escrever aquele que foi, na opinião do jornal The Times: "O melhor romance de guerra que alguma vez saiu nos Estados Unidos".
Mas como já o disse é mais do que uma história de guerra.
É um relato sobre camaradagem, sobre a resistência humana quando levada ao limite, sobre coragem.
Um pelotão de jovens soldados norte-americanos percorre o seu caminho através do terreno traiçoeiro que atravessa a ilha de Anopopei, ocupada pelos japoneses. Apanhados na confusão do combate próximo e armado, e perseguidos por atiradores furtivos, são empurrados até aos limites da resistência humana. Mantidos juntos apenas pela vontade crua da sobrevivência, e mal conseguindo manter vivos os seus sonhos no meio da voragem, cada um dos homens encontra as suas esperanças mais recônditas e medos mais profundos expostos a nu pela pressão incansável do combate.
Um livro que impressiona pela linguagem crua e violenta mas como escreveu José Cardoso Pires no prefácio: "... estamos perante um fresco de violência, é certo, um fresco de carne violentada, mas onde domina sobretudo o tormento da alma, a razão de consciência."
Tudo neste livro é magnifico desde a construção das personagens, que retratam os diferentes "tipos de soldados" que participaram na guerra, as suas opiniões, os seus dilemas e medos. "O recurso a flashbacks, de inspiração nítida de Dos Passos, vem completar o perfil desta gente e justificar-lhe o comportamento. Essas páginas de «Time Machine», aqui traduzidas com tanta felicidade por «Máquina que Explora o Tempo»**, representam o cadastro vivo de um bando de heróis para os quais a guerra transcende a problemática ao nível da luta pela sobrevivência.
Domina-os o passado, a experiência da pátria. Em comparação com isso, medo e febres, horrores e fogo não podem representar a suprema provação. A provação última, a mais dura, é a de justificarem o seu esforço." (de novo Cardoso Pires no prefácio)
* O livro foi reeditado na comemoração dos 60 anos da sua publicação (1948-2008) e lançado de novo quando se assinalam os 70 anos do inicio da II Guerra Mundial.
** O prefácio foi escrito para a primeira edição portuguesa do livro (Ulisseia - 1958) nesta edição Time Machine já aparece com a tradução de Máquina do Tempo.
9 comentários:
É precisamente o livro que estou a ler neste momento. Ainda só li umas 100 páginas mas estou a gostar.
Quanto ao teu desabafo tens toda a razão: é praticamente impossivel encontrar um clássico na maioria das livrarias (pelo menos em Coimbra - a cidade dos estudantes e do conhecimento)
O que me valeu a mim (e à minha biblioteca) foram algumas colecções da planeta de agostini.(perdoe-se a publicidade)
Quanto ao livro do Vargas Llosa também eu o queria e não encontro em lado nenhum - é o único romance dele publicado em Portugal que não li.
Houve uma editora que andou a lançar as obras completas do Verissimo mas há muito tempo que não vejo nada.
Os outros vai-se arranjando alguma coisa se precisares... .
Não conheço este livro e do Mailer só comecei a ler "os exércitos da noite" mas deu-me seca e desisti a meio (que vergonha...)
Quanto ao teu desabafo: é triste mas é verdade estamos refens da vontade dos editores e das livrarias.
E Mário decepcionaste-me: então há um livro que tu não tens ou não leste? ainda por cima do Vargas Llosa!!!!
Se tu não nos podes socorrer quem pode?
não sendo grande fã de livros de guerra devo dizer que este é um dos poucos que li e gostei.
Embora tenha preferido o "HMS Ulysses" do Alistair Mac Lean, esse sim tem uma grande história...
Quanto à falta de escolha ou pelo menos a falta de critério editorial em Portugal isso deve-se creio ao tipo de leitores que temos que se preocupam pouco com a qualidade dos livros que compram e que muitas vezes nem leem...
Não tenham dúvidas que por exemplo o Saramago não vendia tanto se não tivesse ganho o Nobel mas muitas pessoas compram os livros e depois nem os leem mas ficam bem na estante... e quem diz Saramago diz Lobo Antunes e outros bons escritores que por aí andam.
É bom de ver o gosto dos portugueses quando entre os escritores portugueses mais vendidos temos a Margarida Rebelo Pinto...
Já lá vão uns anitos desde que li este livro e confesso que já há alguns detalhes da história que esqueci mas lembro-me que na altura em que o li me deixou bastante impressionado.
Quanto ao teu desabafo tens razão em queixares-te da pouca escolha que as livrarias e editoras nos disponibilizam (e nem todos são amigos do Mário ou do meu pai para encontrar aquilo que mais ninguém tem).
Já agora
1- Diana tens razão nos dois pontos a) o Mário está a falhar falta-lhe um livro do Vargas Llosa; e b) "os exércitos da noite" dá um bocado de seca...
2- Carlos (não sei quem é mas respondo à mesma) o "HMS Ulysses" é melhor que "Os Nus e os Mortos"!!!????? se me falasses de "Os Canhões de Navarrone" (para quem não sabe também do Mac Lean) ainda dizia que talvez muito embora e na minha opinião mesmo "os canhões" seja, e muito, inferior a "os nus e os mortos"
é tudo uma questão de gostos.
uns preferem um género ou autor outros preferem outro...
continuo na minha preferi o HMS ULYSSES mas não quero que ninguém se sinta obrigado a lê-lo ou nada disso. É APENAS E SÓ O MEU GOSTO.
Carlos tens razão quando falas na falta de critério da escolha da maioria dos portugueses e no facto de comprarem livros que muitas vezes não leem só porque é de bom tom dizer que os teem em casa.
Quanto ao HMS Ulysses preferi-o a Os Canhões de Navarone, mas também não é o meu género preferido.
Quanto "A História de Mayta" fui "enganado" pela D. Quixote e passo a explicar:
Há uns anos fui passar um fim-de-semana a Lisboa com uns amigos e demos um salto ao Colombo e tive o livro nas mãos (sim é verdade, confesso podia te-lo comprado e não o fiz) mas na mesma prateleira estava "A Cidade e os Cães" (também do Vargas Llosa mas numa edição da Europa-América) como o dinheiro não dava pra tudo pensei «Estes gajos (leia-se D. Quixote - já pareço o Zé)não costumam reeditar livros que tenham saido antes de começarem a publicar um dado autor (veja-se o caso do Garcia Marquez que só recentemente teve os seus primeiros livros reeditados pela D. Quixote) por isso levo "A cidade e os cães" e noutra altura compro este» pois os senhores decidiram reeditar TODOS os livros mais antigos do Llosa e nunca mais encontrei o outro...
um detalhe eu tinha "A Cidade e os cães" mas tinha-o emprestado há uns anos... foi-me devolvido há pouco tempo ao fim de ONZE (11) anos de empréstimo... agora tenho dois exemplares desse livro e continuo sem o outro....
Não digo que este não seja um bom livro... é, dentro do género, mas não é de todo o género que eu pefiro.
Quanto à escolha que temos nas livrarias elas são apenas o reflexo da sociedade em que vivemos e da população que temos neste país... é triste mas a maioria das pessoas que compram livros não tem a minima preocupação com o que estão a comprar. Só interessa se é recente se teve boas criticas ou se tem uma capa apelativa... por vezes penso que a maioria dos compradores de livros nem sequer os leem como disse alguém lá em cima ficam bem na estante...
Já não é a primeira vez que fazem referencia à biblioteca do Mário, se ela é assim tão completa digam-me se ele tem:
Os Telles de Albergaria de Carlos Malheiro Dias;
Palmeirim de Inglaterra de Francisco de Morais;
Nostromo de Joseph Conrad;
Memorial das proezas da segunda Távola redonda de José Ferreira de Vasconcelos;
Menina e Moça de Bernardim Ribeiro;
Odisseia de Homero;
Eneida também de Homero;
Só pra ver até que ponto ela é completa
Caro Veneno (isto soa estranho)
Antes de mais aí está uma curiosa escolha de clássicos, a maioria não muito conhecida, mas deixe-me fazer uns reparos.
O "Memorial das proezas da segunda távola redonda foi escrita não por José Ferreira de Vasconcelos mas por JORGE Ferreira de Vasconcelos e a "Eneida" apesar de ser (por assim dizer) uma especie de continuação da Iliada (de Homero) foi escrita por Virgilio.
A não ser que se refira a livros que desconheço por completo... (se era para se armar em intelectual ao menos acertasse nos autores)
E sim tenho-os todos...
Enviar um comentário